Passo a Passo: como o Twitter explodiu a minha cabeça
E me transformou numa grande e consistente consumidora de resíduo digital
Abro o Twitter e me vejo de encontro com a vida de influenciadores que eu não dou a mínima. Num tweet assisto à última briga do Big Brother e em outro, descubro que a fulana, que nunca ouvi falar, abriu uma conta no Only Fans. Por isso e por muito mais que anuncio os meus três meses longe dessa rede social.
Não posso ser hipócrita e dizer que a rede de cancelamento massivo não me atraia. Na verdade, eu era viciada. Ao acordar e antes de dormir, ia diretamente às notícias rápidas e dramáticas - e era uma maravilha abrir o aplicativo em lugares entediantes (clínicas, detran e na minha casa). Me sentia ótima com todas as informações na minha mão: os memes atuais, críticas de filmes, críticas de roupas, críticas ao carnívoro, ao vegano, à sexualidade alheia e a todos os seres humanos existentes. Não posso esquecer dos vídeos de brigas em sala de aula, os cancelamentos gratuitos e a exposição de pessoas que querem apenas isso, exposição.
Sim, estou criticando as críticas. Mas o fato é que essa rede social ao lado do TikTok danificou o meu interesse por leitura, por escrita e por toda arte que gosto e preciso consumir e aplicar - e como uma espiritualista mediana, anuncio a carga negativa que me envolvia depois de ficar horas assistindo vídeos de true crime.
Falando em TikTok, eu acompanhava o relatório semanal do meu celular e me impressionavam as 3h diárias em que eu rodava no aplicativo. Era prazeroso saber da vida de pessoas desimportantes (pra mim) e ainda ser completamente consumida por influenciadoras ditadoras - aquelas que pregam palavras de ódio contra homem, shampoo ou sei lá, Jeep Renegade. E aproveitando o gancho do carro, vocês viram o vídeo do homem atropelando uma idosa? E o assalto numa casa dentro de um condomínio? Vocês andam com um canivete na mochila pra se defender? Pois é, eu vivia com medo. O medo nascia dessas 20h semanais que eu passava esgotando a plataforma, construindo rivalidades mentais e ouvindo gente que eu não conheço narrando tragédias.
Eu não larguei o TikTok. Mas hoje assisto a vídeos mais pontuais (gatos miando, gatos dormindo, gatos existindo), tiro dúvidas sobre óleos de cabelo e também acompanho meninas e mulheres que produzem conteúdos que não sugam a minha vontade de viver.
O pós término
Pareço radical, né? Talvez seja porque eu não soube usar as redes sociais a meu favor e acabei me perdendo em meio a algoritmos nocivos - me responsabilizo. E se querem saber, a vida depois dessa decisão foi reparadora. Eu preciso ser inspirada pra inspirar e desperdiçar meu tempo com conteúdos negativos só estava desestimulando a minha construção como pessoa, como escritora e como criadora.
E se quiserem dicas que me foram úteis, vamos lá:
NÃO! Isso não é um convite à alienação. Você pode ver/ler/ouvir as notícias em outro lugar e usar as redes como inspiração e entretenimento: moda, marketing, memes legais, dicas de filmes ou até seguir jornalismo legítimo.
Não caia em ganchos de história de vida porque (quase) sempre vai acabar no relato mais triste e hostil que você vai ouvir na sua vida. Você realmente precisa saber disso?
Se você trabalha com internet, seja profissional. Passar horas rodando a tela até achar um vídeo interessante vai ser frustrante. Vá direto ao ponto!
Clichê mas MUITO útil: vai esperar por horas pra ser atendido no dermatologista? Leva um livro/kindle. No início, vai ser difícil engatar (até porque é muito mais prazeroso consumir conteúdos rápidos) mas aos poucos a leitura flui e o seu cérebro se adapta à nova realidade.
Defina horários pra usar cada rede. “Hoje vou assistir 10 vídeos no TikTok e ficar 40min no Twitter e no Instagram.”
No Instagram, siga quem realmente importa. Amigos próximos, páginas (sérias) de notícias, memes, contas culturais e o que genuinamente faz sentido estar ali - até influenciadores que você admira (aqueles que tem mérito pra atuar, exercem muito bem a sua função e têm responsabilidade com o próximo.)
Não caia em discursos de ódio. Ou você vai odiar o autor ou vai sair por aí, mesmo que de forma inconsciente, com a ideia pré-moldada de que odiar vai salvar o mundo. Se o tema for interessante, pesquise, estude, entenda profundamente pra poder dissertar sobre.
Hoje, vez ou outra, entro na for you do TikTok buscando entretenimento. Às vezes respiro aliviada quando de primeira surge alguém inspirador (inclusive, a
, que através de um vídeo me apresentou o Substack). Mas não adianta. Dois ou três vídeos depois me deparo com trends chatas, “influencer” ditando regra ou fofocas completamente dispensáveis. E dessa forma, desisto de continuar. Meu cérebro naturalmente criou um filtro de até onde eu posso ir e tenho respeitado isso.No fim das contas, eu acho que o meu córtex pré-frontal finalmente ficou pronto. E foi só ele sair do forninho que entendi que estava completamente perdida, me deixando levar por aventuras digitais que não me levaram a lugar nenhum - e convenhamos, é doentio passar mais de 30h semanais consumindo abobrinha.
Hoje, utilizo o Substack como um recurso de autoexpressão e acompanhar pessoas com interesses semelhantes aos meus tem me inspirado. E enquanto me inspirar, eu vou continuar. Enquanto não houver guerras de ego, rivalidades e páginas de fofoca, eu permanecerei.
E se você tá tentando, saiba que reduzir já é um começo (ou o suficiente). Eu eliminei o Twitter de uma só vez e o único sintoma que tive nas primeiras semanas foi uma FOMO absurda - que já nem existe mais. E de todas as dores que sinto no peito nenhuma delas tem a ver com a ausência de notícias de subcelebridades ou com a falta de informações sobre reality show.
desinstalei o twitter tem umas 2 semanas e é surreal a paz que a gente sente né? percebi que tava deixando mto opiniões de pessoas que eu nem conheço influenciar na minha vida.
já não tenho tiktok há tempos, o próximo passo é diminuir o instagram 🙌🏻
Meu Deus, sim!! Eu acabei deixando o Twitter meio de lado no último ano (o córtex pré frontal formadinho 💅) mas ainda sinto muita dificuldade com as outras, justamente por trabalhar com isso e ter que ir fundo nas buscas — e me perder nelas, esquecendo o que ia fazer 🫠