Adotei um gato: uma vida além da minha
A adaptação de uma mulher insegura e de um gato traumatizado
A vida é completamente imprevisível. No tópico 9 do último Liv Magazine, 11 dicas pra GenZ que quer morar sozinha e buscar independência, Será que sou capaz de cuidar de uma vida?, questionei a minha capacidade de ter uma planta, um animal de estimação e eu mesma. Escrevi sobre a Chuleta, cadelinha que resgatei na beira da estrada há dois anos e descrevi porque não me sentia preparada emocionalmente pra cuidar dela.
Publiquei o texto no dia 21 de abril. Na quinta, 24, quando estava indo à academia, recebi duas mensagens inesperadas da minha mãe: duas fotos, cada uma com um gatinho - dois irmãos. Respondi imediatamente, desesperadamente, sem pensar duas vezes: eu quero!!!!, e então pedi pra pensar duas vezes.
Será que posso? Será que sou capaz? Eu tô bem pra tomar essa decisão ou só tô apaixonada pelo rabinho amarelo do gatinho branco? Foram cerca de quatro horas pensando, conversando com pessoas próximas e analisando. Até que, enfim, pedi o contato da doadora. A menina demorou pra me responder - ela tem outras coisas pra fazer, Lívia - e eu fiquei num estado imensurável de ansiedade, empolgação, alegria e medo, medo do gatinho branco com cauda amarela já ter sido doado (e medo de ainda estar disponível). “E se ele me odiar?” “E se eu não conseguir?”
Ela respondeu
Fui buscar a criança numa loja grande, dessas de produtos pra pet. Eu cheguei antes da doadora. Olhei a loja inteira vislumbrando a minha mais nova realidade e me preparando pra gastar mensalmente um valor considerável numa ração que proporcione imunidade e longevidade ao gato. Acabei escolhendo uma específica (sem um pingo de conhecimento) e coloquei no carrinho areia de mandioca (não me pergunte o porquê), cama, potes e caixa de areia azuis (reforçando esteriótipos de gênero, sorry) e uma vara de abelha pra ele brincar de caçador.
Quando ela chegou, com uma coisinha minúscula embrulhada numa mantinha, quase (QUASE) não pude me conter. Peguei aquela criança minúscula e perguntei, “é meu?” Sim, é meu. E agora, eu sou dele. Agora, eu e Lorenzo Antônio, o nome que dei, somos uma família. Paguei e fomos embora. Enquanto eu dirigia, ele miava. Enquanto ele miava, eu dizia que estávamos a caminho de casa.
Já são quatro dias de adaptação
Lorenzo foi encontrado com os irmãos dentro de um telhado e isso explica a necessidade de se esconder em lugares frios e desconfortáveis. Ele tem dois meses, nasceu em fevereiro (acho que é pisciano), é creme com amarelo queimado, tem os olhos mais azuis do que o céu - juro, tô olhando agora pra ele e pro céu -, é tímido, carinhoso, brincalhão e medroso.
Montei um cantinho especial no quarto de hóspedes e não permito o acesso a lugares perigosos, como atrás da máquina de lavar e da geladeira. Preparei a cama com uma mantinha e com o Sr. Raposo - raposa estranha de pelúcia que ele visivelmente odiou e deve ser por isso que resolveu dormir na gaveta. E acabei comprando uma mochila de viagem na Amazon - pra carregar ele sem medo. Essa semana, vamos consultar o veterinário, tomar as devidas vacinas e continuar com a árdua adaptação.
Lorenzo foi uma doce surpresa e é todos os dias. Sinto que essa mini fera, que vez ou outra rosna quando me aproximo, chega como um convite de crescimento e desenvolvimento. E a cada pequeno progresso dele, sou eu que estou evoluindo - a jovem de 26 anos que questiona a sua faculdade de cuidar.
Hoje pela manhã, quando acordei, vi ele deitado do meu lado na cama, aconchegado na mantinha e emitindo leves ronquinhos. Acho que foi o nosso momento mais simbólico - ele tá confiando em mim e, talvez, eu consiga sim cuidar de uma vida além da minha.
que amorzinho! vai ser sua melhor companhia.